00-02,
AMP

Centro Português de Fotografia

Como todas as histórias de vida, o desenvolvimento de um projecto e o crescer de uma obra é, de cada vez, um caso único; com todas as suas características próprias, as suas vicissitudes e os seus momentos de plenitude, é sempre um caso singular, mesmo se há passos tipificados, semelhantes a outros.
Esta afirmação é verdadeira e quase banal no processo de trabalho de um arquitecto. Mas se se tiver em conta um edifício antigo, carregado de simbolismo e de fantasmas, no centro histórico de uma cidade, o seu processo de reabilitação torna-se muito mais singular.
No caso concreto da velha “Cadeia da Relação”, além do edifício é a própria história da cidade e do seu crescimento que se cruzam sobre ele.
O edifício, austero, frio, escorrendo humidade e maus cheiros, tinha uma alma que teria que ser reabilitada, para uso, para o salvar, com um conjunto de descobertas, de suspeitas de potencialidades e de alguns (poucos) dados objectivos sobre necessidades. Assim nasceu um programa. O projecto foi, portanto, encomendado, tendo por base duas ideias fortes: uma, a da máxima flexibilidade para os espaços e para a circulação de pessoas; outra, a de que a introdução da modernidade não destruísse as memórias e ajudasse a descobrir a história que só muito vagamente era conhecida.
Encomenda difícil, mas de grande desafio para os projectistas, que exigia tecer uma rede complicada com a introdução de novos materiais e tecnologias, em espaços labirínticos e de estrutura construtiva muito definida. Houve que tentar não esquecer nada do novo e não perder nada do antigo.
Equação sem solução, obrigou a fazer escolhas, a tomar opções, a optimizar modelos teóricos de funcionamento e sobretudo a salvar a unidade do conjunto em que a proposta não fosse um somatório de partes mais ou menos harmónicas, mas um conjunto coerente, sóbrio, funcional e adaptável a um futuro pouco definido e provavelmente móvel no tempo (funções múltiplas e espaços impenetráveis).
Assim, em grandes linhas, o projecto teve que responder:
 
- No rés-do-chão – a manutenção de grandes espaços abertos a muito público, público curioso que queria ver, comprar, comer, entrar e sair;
 
- No 1º. andar – o espaço nobre da sala do tribunal obrigaria a um público mais restrito, a manifestações mais seleccionadas e a espaços complementares de apoio que as mesmas iriam pedir;
 
- No 2º. andar – os utilizadores estariam ainda mais centrados sobre acções de estudo e reflexão, longe do barulho da rua e do movimento do rés-do-chão.
A criar de novo seria um espaço que ligasse as pequenas caves para surgir um verdadeiro piso técnico onde corressem as infra-estruturas que o edifício necessitava.
 
A par e passo com as grandes linhas orientadoras do projecto, obras de salvamento de emergência decorriam, possibilitando assim aferir soluções.
O acompanhamento das obras, primeiro para suster a degradação, depois para reabilitar e restaurar, foi constante, mesmo antes de ter sido dado início ao projecto, o que facilitou o entendimento do edifício.
A obra teria de ser do final do século XX, deixando o que de marcante apareceu no século XIX e o que existe na traça inicial do imóvel do século XVIII.
Trabalho necessariamente lento, ponderado, discutido e estudado, foi logo de início marcado por factores exógenos que obrigaram a que ele tivesse que ser rápido, definido, indiscutível.
Mais uma vez, como no projecto, a equação não tinha solução e os projectistas estavam no meio de vendavais. Mas já ninguém tinha dúvidas de que tínhamos um objecto raro e precioso entre as mãos.
A obra é a tradução de uma calendário apertado mas onde todos os equilíbrios têm sido ensaiados.
Para as gerações futuras ficam todos os vestígios encontrados da vivência prisional.
Fica a história. Fica um imóvel de rara beleza.
Mas fica também um equipamento no centro da cidade para ser fruído e valorizado com o que dentro dele vier a ser colocado.
  • Imagem 1 - Centro Português de Fotografia
  • Imagem 2 - Centro Português de Fotografia
  • Imagem 3 - Centro Português de Fotografia
  • Imagem 4 - Centro Português de Fotografia
  • Imagem 5 - Centro Português de Fotografia

Imagem 1 - Centro Português de Fotografia 

 

Imagem 2 - Centro Português de Fotografia 

 

Imagem 3 - Centro Português de Fotografia 

 

Imagem 4 - Centro Português de Fotografia 

 

Imagem 5 - Centro Português de Fotografia 

 

  • Planta do Piso 0 - Centro Português de Fotografia
  • Planta do Piso 1 - Centro Português de Fotografia
  • Planta do Piso 2 - Centro Português de Fotografia
  • Planta do Piso 3 - Centro Português de Fotografia
  • Planta de Cobertura - Centro Português de Fotografia
  • Perfil 1 - Centro Português de Fotografia
  • Perfil 2 - Centro Português de Fotografia

Planta do Piso 0 - Centro Português de Fotografia 

 

Planta do Piso 1 - Centro Português de Fotografia 

 

Planta do Piso 2 - Centro Português de Fotografia 

 

Planta do Piso 3 - Centro Português de Fotografia 

 

Planta de Cobertura - Centro Português de Fotografia 

 

Perfil 1 - Centro Português de Fotografia 

 

Perfil 2 - Centro Português de Fotografia 

 

Autor(es)
Eduardo Souto de Moura e Humberto Vieira

Colaborador(es)
Tiago Figueiredo, Ana Fortuna, Luís Damasceno e Sheila Gomes

Especialidades

Estruturas

G.O.P.

Electricidade
G.P.I.Cc

Instalações Mecânicas

Paulo Queirós de Faria

Encomenda
Centro Português de Fotografia

Ano de conclusão
2000

Área geográfica
Porto